Wednesday, May 05, 2010

O Palhaço que me Entristece
O Show não pode continuar!



Parei no farol, em uma esquina aqui perto do escritório. Imediatamente um homem vestido de palhaço saltou à frente dos carros e começou a fazer malabarismo com bolinhas. Sua roupa era suja, rasgada em alguns pontos, mas era um completo traje de palhaço. Em seu rosto, um sorriso razoavelmente simpático. Não o suficiente pra me contagiar, mas bem intencionado.

Não dei nenhuma moeda e me coloquei a pensar. Como qualquer serviço que se preste, a competição torna mais difícil chamar a atenção do público. Fazer com que alguma coisa o diferencie é a dinâmica de qualquer negócio que viva um ambiente de competição e abundância de oferta. Porque dar àquele rapaz uma moeda se algumas quadras adiante, numa esquina um pouco maior, um rapaz, claramente estudante de circo, desempenha malabarismos bem mais elaborados? Porque dar uma moeda àquele rapaz se algumas quadras antes um garoto com aparência bem mais sofrida pede uma moeda para comer algo?

Quando tinha uns 15 anos, fiquei maravilhado ao ver, na rua, na Europa, pessoas executando performances realmente bonitas. Me alegravam, embelezavam a cidade e o espaço público. Porque não tenho a mesma sensação aqui?

Infelizmente sinto que estas performances são apenas aperfeiçoamento da máquina da pobreza neste país. Poucas vezes estes artistas conseguem alegrar os poucos segundos que alguém para em um farol. Até porque, não são artistas. Não tem a sensibilidade e a magia de se conectar com o público. Não mobilizam alegria. Recebem moedas, na maioria das vezes, por provocar um sentimento de culpa meio difuso. De vergonha por fazer parte de um sistema que os colocou ali enquanto eu sento aqui no banco de couro e no ar condicionado. Uma moeda é até demais para alguém que nada me fez de bom, mas é barato para apaziguar o sentimento de culpa.

Por fim, acho estes palhaços uma cena triste. Me entristecem, não me alegram.

O que mais me entristece: não dou mais moedas. Não acho “poderia estar roubando” um bom argumento, não vejo graça nos malabarismos e não vejo porque iludir alguém de que aquela é uma atividade viável e sustentável. O pior: não sinto mais culpa. Mais uma vez: É a nossa sociedade que nos dissocializa.

(A imagem do palhaço foi retirada da galeria do site Paraíso Niilista - não localizei o autor)



Pra fazer justiça: Um artista de verdade, flagrado por Ricardo Avellar

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