Friday, June 25, 2010

Comi o pão e fiquei sem o circo.
Brasil e Portugal não deu nem pra pinga nem bacalhau


O jogo de hoje, entre Brasil e Portugal foi uma das experiências mais frustrantes da minha pouco acalentada vida de torcedor. Segui até o bar, ou restaurante, aqui ao lado do escritório. Fomos todos cheios de energia, camisetas verde e amarelas, fitas e fé. Chegamos para ocupar a mesa, já reservada, bem posicionada entre várias TVs e um telão. Pedimos logo uma caipirinha que era pra deixar claro a que viemos! Sim, eram 11 horas da manhã de um dia de semana. E daí? É nessas horas que podemos jogar todos os problemas pra escanteio, pois há algo mais importante a acontecer: o Brasil vai entrar em campo. A seleção canarinho, que na real, há tempos já voou, vaio entrar pra nos encher de alegria e orgulho de sermos brasileiros. Vai correr o gramado pra nos dar um, ao menos um motivo pra esquecermos que este país está mergulhado em políticos desonestos, governantes fracos e irresponsáveis, serviços públicos que não funcionam, corporações que mandam no Estado e uma economia, que embora diga-se estar “bombando”, carrega para onde olhos dezenas de reclamações e frustrações. Nada disto importa, pois no dia de jogo eu sou o campeão do mundo, e é assim que eu quero me sentir!

Entramos no Dona Felicidade. Lugar ideal para assistir a um bom jogo! Sentamos na mesa onde, com freqüência, podemos encontrar o próprio Casa Grande - O casão mesmo - sentado na hora do almoço. Olhei para a TV e logo acima dela, lá estava: a bandeira de Portugual. Sim. Nos faltou a óbvia lembrança de que a doce senhora que toca este estabelecimento com precisão é portuguesa. O cardápio emparelha pratos portugueses com caipirinhas variadas e mistura lingüiça no álcool e feijoada com uma bela bacalhoada. Pois é. Brasil e Portugual são entrelaçados de maneira inevitável. Eles nos colonizaram, e nós os carregamos dentro de nós. Na nossa cultura, língua e nas esquinas onde os portugueses brasileiros tem seus bares, padarias e restaurantes. Aliás, pra quem não vai há algum tempo pra lusa nação, não tenham dúvidas de que estamos devolvendo à altura. Nós é que os colonizamos hoje, enchendo a pequena nação de brasileiros e novelas.
Mas vamos lá! Vamos vencer este jogo e abandonar esta velha posição colonizada! Nada disso. Não vencemos o jogo. Fizemos um jogo medíocre e sem emoção. Nada que justificasse uma boa caipirinha numa sexta feira pela manhã. Perder o jogo teria nos dado, ao menos, um sentimento. Que fosse dor, raiva, humilhação. Algo que se sinta, como diria o grande Antunes.
Socorro!
Não estou sentindo nada
Nem medo, nem calor, nem fogo
Não vai dar mais pra chorar
Nem pra rir...
Por fim, espero que esta seleção nos ofereça mais em troca da humilhação de uma nação que finge estar tudo bem apenas para assisti-los. Por mim, podiam eles devolver a responsabilidade ao Governo, que este sim merece ser questionado por milhões. Mas não o é. Então, que a seleção tome as palavras que seguem nesta canção de Arnaldo:
Alguma alma mesmo que penada
Me empreste suas penas.

Veremos o que virá. Seguimos em nossa esperança circense.

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