Monday, April 05, 2010

MINHA QUERIDA BABE GOLDE

Na sexta feira estive com a minha avó. Pra quem não conhece, estou falando da D. Golda. Babe Golde, em idish. Babe que dizer vó, e é assim que a gente chama ela: Babe! 94 anos, nascida na Polônia. Chegou ao Brasil, ficou, casou, trabalhou, teve, filhos, netos, bisnetos...


Ela mora atualmente com os meus pais. E para que não restem dúvidas: sim, ela é uma típica mãe judia. Se alguém duvida das piadas que escuta e acha que, por qualquer razão, elas são baseadas em preconceitos exagerados, sugiro uma visita à Babe Golde.

Na sexta feira ela entrou na sala tremendo, gemendo e com a cara de quem acabara de saber de uma tragédia. O que foi, babe? Eu ingenuamente, mas não em desaviso, perguntei.

O papai e a mamãe sumiram!

Meus pais, de férias na Europa, não sumiram. Estão de férias na Europa. Ligam a cada dois dias, mandam e-mails, mensagens pelo celular... E, sim. Eles a avisaram sobre a viagem, explicaram, contaram e deixaram uma turma de pessoas cuidadosas e carinhosas pra cuidarem dela. Mas ela esqueceu. Esqueceu que eles foram viajar e quer saber onde eles estão. Eu expliquei que eles tinham me telefonado e estavam na Dinamarca. Ela parou de chorar, olhou pra mim e perguntou: Verdade?
Sim, Babe. Verdade. E ela retrucou: Verdade? E eu respondi: Verdade. E ela retrucou: Verdade? E eu respondi: Verdade. E ela retrucou: Verdade? E eu respondi: Verdade. E ela retrucou: Verdade? E eu respondi: Verdade, Babe. É verdade! Após alguns segundos ela exclamou: Você ta brincando comigo! Onde eles estão!

Joguei a toalha, jantamos juntos, meu irmão trouxe a filha de um mês pra ela paparicar e tudo ficou bem...

Ontem meu tio foi visitá-la e ela em tom de urgência confidenciou o destino dos meus pais como quem desvendara um mistério:
Eles foram presos!


Não há de ser nada: amanhã meus pais chegam e com o final do Pessach termina o período de provação. No final, é uma delícia ter uma avó de 94 anos!

1 comment:

Unknown said...

Isso pra mim é riqueza, não tem preço!
Meu irmão uma época começou a gravar conversas com a minha vó, uma vez por semana, onde ela contava fatos da infância, nunca revelados, relatos da guerra etc....coisa maravilhosa, priceless!
bjs