Thursday, April 22, 2010

Sustentabilidade Custa Sim
As empresas querem ser sustentáveis, mas não estão dispostas a reduzir suas margens

A Sustentabilidade Corporativa é uma frente importante do meu trabalho. Participo de encontros, palestras, leio livros, artigos e, principalmente, freqüento inúmeras reuniões. Muito se diz, alguma coisa se faz. Algumas empresas têm iniciativas memoráveis, outras deploráveis. Enfim, assim vem engatinhando uma das frentes pra construir uma vida melhor pra humanidade neste planeta.


Uma coisa me incomoda muito de maneira recorrente. Não tenho uma visão pueril sobre o tema. Sei que as empresas começaram este movimento quando sentiram a ameaça de que isto influenciaria o valor de sua marca e a disposição do mercado em comprar seus produtos, ou quando foram obrigadas a se adequar à legislação. Acho que este é um processo legítimo. É uma forma de fazer as empresas se direcionarem para onde a sociedade quer. A partir daí começam ações, inicialmente imaturas, feitas com boa intenção e pobre visão. Aos poucos amadurece, chegam entendidos, consultores, modelos de controle e direcionamento. Ethos, GRI, ISE... As empresas começam a perceber que existem questões sérias no seu modelo de gestão que terão de ser mudadas. O diálogo que não se sabe estabelecer, a transparência que ainda é turva, o modelo de relacionamento e, algo que ainda acontece raramente: a coerência.

Eu poderia escrever um livro sobre o que vejo e penso sobre cada um destes temas, mas quero abordar algo muito pontual.

Empresários determinam que sua empresa monte uma comissão de sustentabilidade, convocam reuniões e chamam consultores. Os empresários querem se alinhar e divulgar suas ações. Têm medo de ficar fora do mercado e têm certo medo de um colapso no planeta que prejudique sua temporada de ski. Às vezes até têm consciência verdadeiramente. Mas não estão dispostos a reduzir as margens de lucratividade de sua empresa para que ela seja mais sustentável. Escuto que não há verba para elaborar um relatório GRI, mas não escuto a predisposição de um empresário com um salário milionário a reduzir a disparidade entre sua retirada e a de seus funcionários, para que a empresa possa ser mais sustentável. Ser sustentável, provavelmente, custará sim às empresas. Isso porque existem recursos criados pela sua extrema eficiência, mas que degradam o ambiente, e eles terão de ser substituídos. Além disso, haverá pesquisa envolvida neste processo, haverá outros profissionais na cadeia e, por fim, porque a disparidade social é uma das coisas insustentáveis neste planeta. As empresas estão dispostas a investir em sustentabilidade pra ganhar competitividade, mas em breve isto será condição de existência, e a margens de lucro das grandes corporações se reduzirão por isso, sim. E isto será bom para a sociedade e para o planeta.

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