A verdade e a Arte
Publicado dia 6 de agosto de 2010 no site www.itu.com.br
Outro dia conheci um grande cara. Aliás, literalmente grande. Lá, do alto dos seus dois metros, ele me disse algo que vem reverberando em mim desde então. Expansivo, engraçado e inteligente, meu caro amigo disse despretencioso: “ Hoje posso ter o carro que eu quiser, a casa que eu quiser, a roupa que eu quiser, a viagem que eu quiser...mas sempre vai faltar alguma coisa, e esta coisa é o dom artístico.”
Que fascínio exerce o artista? O artista não é o que se diz artista, nem mesmo o que vive de sua arte. Estes podem ser artistas, mas não necessariamente o são. Pois o que define o artista não é produzir o que o mundo convencionou chamar arte, pois os artistas nada tem a ver com as convenções. Os artistas vivem o compromisso com sua própria necessidade de expressar-se. E o fazem. O fazem das mais vairadas formas. Formas aprendidas ou criadas, mas, para eles, elas são apenas ferramentas para que possam externalizar seu interior fervente e pulsante. Manifestam para que não explodam e, por vezes, há tanto a ser expressado que mesmo fazendo-o, enlouquecem, como enlouqueceram tantos gênios da arte, e seguirão enluquecendo, pois sua loucura ér uma manifestação de sua maravilhosa sanidade. Porque a sanidade jamais é completa, em ninguém. Não para sempre. No verdadeiro artista a loucura dança o tempo todo ao seu redor e sua arte o mantém no delicado equilíbrio de seu papel no mundo. A arte não tem compromisso algum com a sanidade. Ela não se importa com o que chamamos são, e nem mesmo com o que chamamos louco.
O que nos fascina sobre eles? O que nos fascina é que eles, os verdadeiros artistas, aqueles que não importam serem chamados gênios ou loucos, não expressam a si próprios, pois seu interior não ferve com suas próprias agruras, mas sim com as agruras do mundo ao seu redor que o artista, na sua incrível sensibilidade, capta e expressa. O artista expressa e nós seguimos tentando explicar sua obra inconformados por senti-la sem compreender. Nossas explicações são, para o verdadeiro artista, desimportantes e profundamente desinteressantes, pois o artista ao executar sua obra já aliviou sua alma. O resto é com aqueles, que como eu e meu grande amigo, ficaremos embasbacados admirando e sentindo-nos tocados por aquilo, pois aquilo me toca. Aquela música, aquela pintura ou aquela manifestação que não sei nominar e, talvez, jamais saberei, me toca profundamente e me faz lembrar que eu estou vivo e tenho uma alma e que, principalmente, esta alma também está viva. O artista nos toca sem pretender ou almejar fazê-lo. Como pode ele acessar minha alma se eu mesmo não consigo fazê-lo? Esta despretenção talentosa de nos tocar nos intriga, pois nós, em nossas complexas contruções de poder, parecemos ao artista, insignificantes. E esta insignificância nos incomoda por sabermos ser ela profundamente verdaderia. E nada, nada nos implusiona a discordar e negar tanto quanto as nossas verdades profundas. Um beijo a meus amigos artistas que, por benção desmerecida, tenho tantos.
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