Wednesday, June 09, 2010

Nem Por Todo o Chá da China!
A situação na China começa a mostrar sinais da sua insustentabilidade.


A expressão “negócio da China” refere-se a um bom negócio. Vem do século XVIII, se não me engano, quando a China negociava chás e especiarias com o ocidente, e os navios faziam, para isso, uma rota otimizada quanto ao leva e trás de mercadorias.

Hoje, a expressão não poderia ser mais atual. A China é o parque fabril do mundo. Sua economia vem apresentando índices de crescimento impressionantes, o país produz, ganha espaço e, há tempos, deixou de ser “o outro lado do mundo”.

Todo este movimento, porém, não deixa de ser apoiado em solo pouco firme em alguns aspectos, como cheguei a comentar no post A Muralha da China Cresceu, tempos atrás. Já há alguns anos, analistas com um olhar amplo ao equilíbrio do mundo vêm apontando o potencial de colapso do modelo chinês. O crescimento tem se dado em grande parte pelas condições de produção a preços muito menores do que em outros países. Produzir, na China, é muito barato. É tão barato que compensa a distância, a dificuldade da língua, o transporte e tudo mais. Mas a China esconde incoerências que, em algum momento, não poderão se sustentar. Há muita hipocrisia do ocidente neste processo. Enquanto as indústrias locais têm, cada vez mais, que buscar modelos sustentáveis de solução, elaborar relatórios evidenciando isto, conquistar certificações, se relacionar com diferentes stakeholders, etc. Na, China, a produção não preocupa-se com tantos parâmetros. A qualidade industrial tem sido aprimorada e auditada, mas a qualidade social da produção é um ponto cego desta equação. O ocidente compra da China e faz vistas grossas e hipócritas a isto.

O budismo é firme ao dizer que nada é permanente. A China, como um país com grande percentual de sua população budista, não escapa desta sábia realidade. Pouco a pouco os trabalhadores chineses tomam consciência da precariedade de sua condição de trabalho. A China vive hoje uma séria e greves e marchas reinvindicatórias. A Honda está com sua produção praticamente parada há dois dias, sendo que acabou de sair de uma dura negociação onde acabou aumentando salários e participações de seus funcionários. Ao contrário do que pode-se pensar, com a velocidade da comunicação, mesmo em um país que ainda tenta controlá-la, estes movimentos não se darão lentamente. Eles serão rápidos e criarão tensões crescentes no seio do crescimento chinês.

O próprio governo mudou seu discurso e, agora, começa a incentivar empresas a melhorarem as condições de trabalho de seus funcionários. Para um governo ditatorial que sabe que seu crescimento se deve aos custos baixos da produção no país, isto não é pouca coisa. Com a China sob olhos do mundo, o governo ditatorial terá de aprender a dançar músicas diferentes. Na China, o país parece dividir-se em realidades muito dissonantes.

Veremos por quanto tempo o negócio da China seguirá sendo um bom negócio e por quanto tempo o governo chinês conseguirá sustentar uma gestão assim negociando com o mundo ocidental. Por hora, um pouco de repressão na China e um pouco de hipocrisia no ocidente tem resolvido.

No comments: