Entrevista Marcio Svartman #ONWEEK
Entrevista publicada na Revista OnWeek - setembro 2010 quarta-feira, 15 de setembro de 2010, 11:25
No terceiro dia do ON Week, o Marcio Svartman vai falar sobre o papel que o medo exerce nas nossas carreiras e negócios, principalmente no que diz respeito à vida corporativa jovem. Além da palestra, o consultor também estárá presente em uma matéria na Results#21 (rodando na gráfica enquanto escrevo esse post), sobre as novas relações hierárquicas corporativas, nas quais o medo e a incerteza ainda são sentimentos bastante presentes. Então, enquanto você aguarda o evento (inscreva-se aqui) e a revista, adianto abaixo a entrevista que o Alê Finelli fez com ele para a reportagem.
Muitas empresas afirmam serem mais amplas e abertas ao diálogo. Como tem sido isso na prática? As relações entre os funcionários, de diferentes posições, estão realmente mais horizontais?
Acho que compararmos com as relações de trabalho até a década de 80, sim. Há uma diminuição das barreiras hierárquicas na empresa. Isto não quer dizer que elas sumiram. Além disso, uma mudança leva tempo para acontecer. Tirar as paredes, manter portas abertas e dizer que qualquer um pode dirigir-se ao presidente são atitudes simbólicas. Elas indicam o início da mudança, mas leva tempo para que estas intenções tornem-se realidade. As barreiras contruídas na mente das pessoas ainda não foram rompidas. Há muita fantasia sobre as relações hierárquicas, e estas fantasias existem desde que o homem começou a organizar-se em sociedade. No livro Totem e Tabu, de Freud, ele descreve de forma fascinante os rituais de relacionamento com os líderes em tribos primitivas na Oceania. Todas as dificuldades já estavam lá, e seguem existindo. Rompê-las implica na contrução de um novo modelo mental. No dia-a-dia vejo, ainda, muito medo nas pessoas em dirigirem-se com espontaneidade a seus superiores na empresa. É uma pena, mas a realidade ainda é esta de maneira muito forte.
A forma como a Geração Y se relaciona com seus superiores é, de fato, diferenciada?
A maneira como esta geração vê a hierarquia é, sim, diferente. Mas eles também sabem perceber quais são os códigos adequados nos ambientes em que estão inseridos. Todos nós fazemos isto. É uma questão de sobrevivência nos grupos. Se um profissional acha que a formalidade para chegar ao presidente não faz sentido, ele pode ter mais facilidade de rompê-la, mas isto não quer dizer que ele irá ignorá-la, pois sabe que a organização é como uma sociedade, e tem suas regras. Algumas formais, outras não.
Então, quais são os caminhos para diminuir as distâncias hierárquicas?
É uma mudança cultural. Isto quer dizer que a mudança deve acontecer em diferentes níveis. Quando esta geração começar a subir a cargos mais altos, estas barreiras já irão diminuir naturalmente. A geração anterior, chamada Geração X, já está fazendo isto, pois também é bem menos formal que as gerações anteriores. Portanto, há uma diminuição neste gap que acontecerá naturalmente. Mas a grande dificuldade que ainda não foi abordada é reaprender a usar o diálogo como elemento de trabalho. Criar mecanismos adequados para a troca e a construção conjunta é um passo fundamental para que a diminuição da distância hierárquica torne a empresa mais criativa, inovadora e agradável. Ao invés de transformá-la em uma bagunça. Isto parece mais simples do que é na realidade, e as empresas não sabem fazer isto, nem a turma da Geração Y.
Fazendo um balanço disso, você acha que dá para concluir que as questões hierárquicas são mais pessoais do que geracionais?
Os dois aspectos influenciam este comportamento. Há um componente pessoal, que diz respeito à personalidade, mas também ao histórico de vida de cada um. Mas é inegável que há um componente cultural muito forte e importante. E este componente é diferente a cada geração.
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