Sustentabilidade numa sociedade de consumo. Dá?
Publicado no www.itu.com.br : Quinta-feira, 30 de setembro de 2010
Ando próximo de vários movimentos de sustentabilidade corporativa.
Há algo em tudo isso que me preocupa entre as eventuais alegrias de ver uma ou outra coisa muito bem feita, apoiadas ou até estruturadas pelas empresas.
São alguns paradoxos que não consegui resolver, e dizem respeito principalmente às relações e ao planeta.
Vivemos em uma sociedade essencialmente corporativa, onde o poder das corporações é crescente e o seu foco é absolutamente claro: maximizar lucros. Isso é assim, pois o sistema foi contruído para isso. Qualquer pessoa, em uma grande corporação, que tentar afrontar isso será expelida pelo sistema. Independente do cargo ocupado. É a sociedade de consumo, dominada por grandes corporações, com poder imenso.
Agora, a maximização do lucro transforma cuidados com o meio ambiente em custo. Cuidados com os relacionamentos, e ética acima de preço, em custo também. O movimento de sustentabilidade tenta erguer em sua bandeira estes dois pilares, ao lado da sustentabilidade financeira de longo prazo. Modelos, como Ethos ou GRI, foram criados para parametrizar relatórios de Sustentabilidade nas empresas. Mas o que vejo é que as corporações aprendem a gerar seus relatórios, mas a cultura mantém áreas escuras que passam entre os dedos da sustentabilidade. É difícil que seja diferente, pois, em última instância, empresas tentarão incentivar o consumo. Quando todas assumirem algumas posturas básicas de sustentabilidade, pressionadas pelo mercado, isto deixará de ser um elemento diferenciador, e perderá sua força como diferencial competitivo. As empresas cessarão seus investimentos em sustentabilidade exatamente neste ponto. Assumo que isto representará uma melhora considerável, mas muito pequena frente ao tamanho da reversão que precisamos criar na questão ambiental. Há uma necesidade gigante de mudar radicalmente alguns valores em nossa cultura.
Por fim, exitem dois pontos principais que me fazem questionar o caminho que vamos seguindo. Primeiro, o paradoxo: Podemos criar uma sociedade que tenha a sustentabilidade realmente como um valor importante em uma sociedade de consumo dominada por grandes corporações?
Em segundo lugar: Se isto é possível de alguma forma – e não estou seguro de que seja – certamente deverá passar por uma atuação mais séria do Estado. Um Governo mais comprometido com a construção de um país exemplo em sustentabilidade é fundamental, e hoje isto efetivamnte não existe. O Capital ainda fala muito, mas muito, mais alto do que o problema ambiental e o problema da sustentabilidade da nossa vida neste planeta.
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